Sábado, 19 de Abril de 2025

Esteticista é presa em MS por aplicar substância mortal em clínica clandestina

Esteticista é presa em MS por aplicar substância mortal em clínica clandestina

15/04/2025 às 15:56
Por: Redação

Bruna Paniago de Almeida, de 31 anos, foi presa nesta segunda-feira (14) por aplicar Lipostabil, uma substância proibida no Brasil, em pacientes de sua clínica irregular, localizada na Vila Piratininga, em Campo Grande. O estabelecimento, que funcionava em uma sala alugada, foi interditado pela Vigilância Sanitária.

A investigação concentrou-se no uso do Lipostabil, originalmente desenvolvido para tratar embolias pulmonares e hepáticas. Apesar disso, a substância — cujo princípio ativo é a fosfatidilcolina — vinha sendo empregada de forma ilegal em procedimentos estéticos para eliminar gordura localizada, prática não autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A Anvisa proíbe o uso estético do Lipostabil devido aos riscos graves à saúde, como inflamações, necroses, reações alérgicas severas e até morte. Seu emprego é permitido apenas em ambientes hospitalares, sob rigoroso controle médico.

Além dessa substância, foram apreendidos ácido hialurônico e toxina botulínica, produtos com uso restrito a médicos em procedimentos específicos. Bruna alegou ser formada em estética, o que a habilitaria apenas a realizar tratamentos não invasivos, mas não apresentou documentação comprovando sua qualificação. Ela também prometeu fornecer notas fiscais do ácido hialurônico, que estava armazenado sem refrigeração adequada.

A Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) constatou o descarte incorreto de materiais contaminados, como agulhas usadas, no lixo comum, colocando em risco os trabalhadores de coleta. Outra irregularidade foi a realização do procedimento Skinbooster, exclusivo para dermatologistas, sem as licenças necessárias.

30hlk7yp7r284.jpegBruna foi presa por exercício ilegal da profissão, por induzir clientes ao erro e por expor terceiros a risco iminente de saúde. (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Prisão e acusações

A esteticista foi detida por exercício ilegal da profissão, indução ao erro e exposição de terceiros a perigo iminente. Ela está na 2ª Delegacia de Polícia Civil aguardando audiência de custódia.

De acordo com o delegado Reginaldo Salomão, Bruna era investigada há quase um ano, mas sua prisão foi dificultada pela falta de um endereço fixo e pela ausência de bens em seu nome. O celular que utilizava também não estava registrado em seu nome. A captura ocorreu após uma denúncia na Decon.

No local da prisão, duas mulheres foram encontradas: uma havia acabado de passar por um preenchimento labial, e outra aguardava atendimento. Uma delas, que não se identificou, disse à reportagem: “graças a Deus”, quando questionada se teve problemas com os procedimentos. A cliente revelou ter realizado quatro sessões de preenchimento labial no local, aplicando cerca de 20 ml de ácido hialurônico no total. “Eu fiz quatro vezes o procedimento, coloquei uns 20 ml de ácido. Não da mesma vez, mas as quatro vezes eu coloquei”, disse.

 

Preços abaixo do mercado

Bruna oferecia aplicações de toxina botulínica e ácido hialurônico por valores significativamente menores que os praticados no mercado. Suas redes sociais, com poucas postagens sobre o trabalho, eram privadas e continham quatro vídeos: um mostrando aplicação de botox e outro, preenchimento labial.

A perícia localizou 30 notas fiscais de procedimentos realizados na clínica e busca identificar outras vítimas. Entre os casos conhecidos está o da nutricionista Lorena Pereira de Sena, que moveu ação judicial contra a esteticista. Bruna iniciou o curso de Biomedicina, mas não o concluiu.